terça-feira, 8 de março de 2011

Carnaval ou consenso para uma só voz - O Inferno de Dandi


Carnaval é uma festa de todas as cores (vale para legendas também?)
Em nota editorial do dia 6 de março, o Estadão lançou matéria intitulada A autoridade de Dilma, referindo-se aos desenrolamentos do Ministério da Cultura de Ana de Holanda. No texto é clara a posição favorável ao embate Ana versus Sader. De fato, Emir Sader gostaria de propor na Fundação Casa Rui Barbosa a abertura para novos horizontes, almejava levantar a voz do pensamento crítico e evitar o pensamento único. Para muitos não passaria de um proselitismo político-ideológico. A intenção era de estudar a fundo o Brasil de Lula, tirar tais estudos apenas do ciclo acadêmico, além de dar voz a intelectuais cuja contemplação é esquecida na esfera pública, como Marilena Chauí, Leonardo Boff, Eduardo Galeano e Slavoj Zizek. Seria de todo importante para a democracia, mas é um erro de Sader passar por cima da tradição da Casa Rui Barbosa, que até poderia abrir novos espaços para uma inserção maior da sociedade, mas não da forma como Sader queria conduzir. José Murilo de Carvalho, da Academia Brasileira de Letras, por exemplo, afirmou:
"Transformar uma casa que pertenceu a um ícone do liberalismo num espaço para seus inimigos ideológicos seria uma grande traição"
Dilma foi contemplada com elogios pela imprensa por mostrar capacidade de comando, preservando a autoridade de Ana de Holanda, enquanto Emir Sader, revelando-se por inteiro, apresentava-se como "vítima privilegiada" da mídia conservadora e da "truculência da direita". Trechos ainda mais peculiares como vibrando por Dilma ter agido de forma exemplar, consciente de que a confirmação de Sader à frente da Fundação Casa de Rui Barbosa abriria um perigoso precedente em seu governo. Talvez seria, mas também seria vigoroso um espaço público para que outras vozes pudessem se expressar, mostrar sua análise, sua versão dos fatos, mas de forma democrática. No entanto, um marco regulatório das mídias está sendo abafado, assim como qualquer intenção próxima a de Sader. A mídia portanto sauda a presidenta, que deixa claro agora estar compactuando com os acontecimentos do Ministério da Cultura, pois não seria uma pauta não visitada por Dilma no ínicio de seu governo. A intenção de proselitismo é negativa, mas seria um contraponto em meio a um universo midíatico todo formado, em geral, para uma única voz. Mesmo assim não seria uma resposta.
Pra quem acompanha o blog e as mídias sociais, o jornal falta ao afirmar que a crise do Ministério da Cultura tem apenas duas semanas. É um embrólio para militância e para os movimentos culturais desde o dia em que Ana de Holanda pisou na casa da Cultura brasileira. Sader era um dos cotados para ser o Ministro da Cultura do Governo Dilma, mas, por motivos que debatemos aqui n'O Inferno de Dandi, Ana tomou seu lugar e Sader teve de se consolar com a Fundação Casa Rui Barbosa. O amigo Gilson Moura Jr. (http://tranversaldotempo.blogspot.com) afirma que um dos grandes erros do sociólogo foi tratar a relevância da Casa Rui Barbosa como menor, pois para Sader ela não trata de temas contemporâneos. De fato, um equívoco, pois como afirma a edição do Estadão citada,  nas últimas três décadas a entidade tornou-se referência em linhas de pesquisas como de direito público e literatura. As pesquisas jurídicas da entidade, por exemplo, fundamentaram a Emenda Constitucional n.º 45, responsável pela reforma do Judiciário. Então, o parecer de Sader era mesmo autoritário, de quem não aceitou uma derrota política e queria de todo modo forçar um projeto pessoal a altura do Ministério da Cultura ou de seu ego.


O lado negativo disso tudo é que temos agora uma consolidação de Ana de Holanda no quadro da Cultura. E os que pensavam que a ministra era um erro político, como se fosse apenas um equívoco a ser sanado com outra indicação, viu neste desfecho uma consentimento para as políticas de retrocesso que serão feitas com a Cultura no Brasil. A exemplo, está reportagem do sítio A Rede que evidencia uma política de investimentos em infraestrutura nas intenções da Ministra Holanda. Mas se a Cultura é imaterial?! Tudo bem, então serão mais Pontos de Cultura e um incentivo maior a estas casas que tanto tem disseminado a Cultura em nosso país. Não! A ideia é criar um PAC da Cultura, em que seriam construídas e ressuscitadas as BAC's (Bases de Apoio a Cultura), um gasto burro e com graves erros de conceitos e severas consequências: Vamos retirar da periferia os Pontos Culturais que são tão vivos e vamos trazer de novo ao centro a Cultura, vamos investir numa estrutura que vai caducar e dar voz apenas aos musos e musas que sempre tiveram, vamos deixar de abrir espaços para novas consciências. Ou seja, estaremos aleijando a renovação da Cultura em nosso país.

E a consciência política? Ela também está nos apuros do consentimento, cada vez mais se harmonizando, cada vez mais se misturando e se concentrando, cada vez mais se aproximando das velhas formas de dizer e fazer ver e ler. Cada vez mais se esgueirando para uma única voz que não representará a maioria de sua população. São casos como o de Kassab, ao perceber a impotência de seu partido, Democratas, desde os vários escândalos como Arruda em Brasília ao fracasso nas eleições de 2010, decidiu sair e criar uma nova legenda. Seus companheiros traídos estão chamando esta legenda de Partido da Boquinha, e classificaram a atitude de fusão com um novo partido posteriormente como lamentável e um adesismo oportunista. Mas há quem chame isto de pragmatismo político. Os mesmos que não veem problemas na ida de Dilma à TV para uma enfadonha receitas de omeletes. Fica a dica da presidenta "para se fazer uma omelete, tem de se quebrar alguns ovos". E este é o cenário da carvanalização política do país, não importa a ideologia, não importa o segmento ou gênero, a busca pelo poder e a veneração do mercado são as marcas da folia.

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P.S.: Saudações ao amigo Gilson Moura Jr., que com críticas sinceras colaborou com a real intenção deste texto, anteriormente não contempladas ;-)

Participe do debate em O Inferno de Dandi.

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